A música de câmara, tal como se consolidou na tradição ocidental, encontrou em Joseph Haydn seu mais notável arquiteto. O quarteto de cordas sempre se revelou, para João Marcondes, um convite simbólico à criação, uma estrutura privilegiada para a transmutação de ideias musicais em forma e expressão. Desde os primeiros passos de sua trajetória, Marcondes dedicou-se à imersão nesse universo, investigando seu repertório, seus cânones e os estigmas que o circundam.
Foi nesse percurso que, explorando o acervo do MIS, deparou-se com um registro de Heitor Villa-Lobos comentando sobre a singularidade do quarteto de Debussy. O compositor brasileiro asseverava que essa obra superava em relevância os incontáveis quartetos de Haydn e de outros mestres do gênero. Ao ouvi-lo, Marcondes compreendeu o fascínio que a peça exercia sobre Villa-Lobos, mas também percebeu que a instrumentação transcende fronteiras e assume contornos estéticos maleáveis, ressignificando-se a partir do olhar de cada criador.
Dessa reflexão emergiu a série Lamento Brasileiro – ou Brazilian Sadness –, um ciclo de treze peças que traduzem, em som, as tensões, feridas e contradições que marcam a gênese do povo brasileiro. Forjada em meio a uma trajetória histórica permeada por conflitos e assimetrias, essa série não se limita a um conjunto de composições: é um ensaio musical sobre identidade, um questionamento profundo acerca do que somos – e, sobretudo, de quem somos.