Por meio da complexa pureza da harpa, Paola Baron trata de um olhar íntimo sobre a ópera. Volta-se para o legado a trazer esse repertório para a música solo. Revisitação necessária, sem que não se vislumbra bem o fazer musical dos palcos e da vida privada até o início do Novecentos, obscurecido em parte na era das primeiras gravações.
Opera, de maneiras diferentes, manifesta que não se conhecem os limites da harpa. Celebra a arte de “traduzir” grupos musicais imensos para o instrumento. Atesta que de uma só intérprete vêm variedades de texturas e patamares sonoros às vezes tidas como exclusivas das fileiras de músicos.
Nesse reencontro com as obras, Opera versa sobre encontrar.
Em Liebeslied from “Die Walküre”, ao se ouvirem ecos das melodias nos harmônicos de oitava, percebem-se já indícios da inventividade de Oberthür ao adaptar a composição de Wagner para harpa. Em Samson et Delila, Act 2: Mon coeur s’ouvre à ta voix, os arpejos do arranjo de Snoer mesclam-se à pena de Saint-Saëns como se lhe pertencessem desde a gênese. Em Lucia di Lammermoor, Act I: Scene 2 (Excerpt), Zabel cria uma cadenza ad libitum que, em si mesma, é uma obra-prima. Traça, também, uma interação prolífera em surpresas com a linha original de Donizetti para harpa.
Paola Baron há muito permite às plateias redescobrir esse repertório. Neste álbum, com Fantasia su “Madama Butterfly” (After Giacomo Puccini), acrescenta a essa tradição um arranjo próprio (que se inspira na adaptação para piano de Charles Godfrey Jr.), marcado pela abrangência expressiva e pela versatilidade de seu toque.
Texto: Daniel Bento – @enxerguemusica