Em PIANO SOLOS, Fabio Caramuru dirige-se a momentos diferentes de sua carreira. Contempla peças da própria autoria, elaboradas entre os anos de 2011 e 2021, e cria leituras inéditas a partir disso.
A experiência na música erudita e popular desse pianista e compositor paulistano flui amiúde sob o fascínio da natureza, como atesta The Wings Suite, Op. 16. Nela, o movimento Tangará evoca o canto do pássaro a cujo nome seu título faz referência e, ainda, encontra via de inspiração em Danseuses de Delphes, de Claude Debussy (1862-1918). Por seu turno, Sabiá, Saudade do Brasil, outro segmento da suíte, traz uma melodia em sextas a memorar a música raiz do Sudeste, voltando-se, ademais, para o sabiá e — em diálogo com Gonçalves Dias (1823-1864), Tom Jobim (1927-1994) e Chico Buarque (1944) — para sua presença na arte nacional.
Peça de verve irônica, Em Três, Op. 7, reexamina a valsa. Subverte algo de sua praxe, visando a afastar levemente o ouvinte de uma zona de conforto na tradicional dança. Em Variations on a High School Hymn, Caramuru acolhe como tema um hino de colégio. Nessa composição, constrói quatro variações breves. A quinta e última, ampla, distende a melodia original. Essas duas peças, inclusive, ilustram bem, mas sem esgotar, a palheta imaginativa do álbum, repleto de contrastes sonoros, conceituais e inspiratórios.
Texto: Daniel Bento – @enxerguemusica