“Mães não sabiam onde passariam a noite com os filhos”: uma nova releitura da canção de ninar ucraniana, Kolyskova, “The dream passes by the windows” (“O sonho passa pelas janelas”). Até este ano de 2022, as palavras desta canção de ninar sempre estiveram associadas ao aconchego de uma mãe, ao conforto do lar e a uma cama macia. Esta é uma música que todo ucraniano conhece em um nível genético. No entanto, com o início da ofensiva em grande escala da Rússia em território ucraniano, essa canção de ninar passou a ser percebida de maneira um pouco diferente.
“No dia em que a Rússia iniciou sua ofensiva em grande escala em nosso país, eu estava no Brasil. Eu não conseguia pensar em muito mais o que fazer, então comecei a ajudar meus amigos e parentes a evacuar. Não dormi com eles, pois aguentei filas de quilômetros na fronteira, procurei lugares para eles passarem a noite e verifiquei a segurança rodoviária e os alertas de ataque aéreo. Cada dia começava com dezenas de mensagens de “você está vivo?”.” diz Valya.
Embora existam muitas variações dessa canção de ninar, cada uma com sua melodia e imagens diferentes dependendo da região, todas elas têm uma parte em comum:
“O Sonho pergunta ao Sono,
Onde vamos passar a noite?
Onde quer que haja uma casinha quentinha
Onde dentro vive uma criancinha
É onde vamos passar a noite
E envolver esta criança com amor.”
Profundamente tocada por conversas com mães que tiveram que fugir da Ucrânia, Valya concebeu a canção de ninar “Oi Khodyt’ Con Kolo Vikon” (“O sonho passa pelas janelas”) de uma nova maneira.
“Na canção de ninar, o Sonho pergunta ao Sono onde passarão a noite. O Sono responde: onde quer que haja uma casinha quentinha. Enquanto eu cantava essa parte para mim mesma, percebi que por causa da guerra, milhares de nossas mães não sabiam onde passariam a noite com seus filhos. Cada um deles sonhava com uma “casinha quentinha”, mas acabavam tendo que dormir onde tinham sorte: talvez em um carro na fronteira, ou em trens lotados, e até sob bombardeios em Azovstal. diz Valya.
A música foi gravada no Brasil junto com músicos locais que sentiram profundamente o significado desta canção de ninar. Foi co-produzido por Kiko Woiski e pela própria Valya, mixado pelo engenheiro vencedor do Grammy Latino, Adonias Souza Jr. A significativa arte da capa foi feita por Kateryna Zhovta. Levchenko também concebeu e gerenciou a produção de imagens para o videoclipe nos últimos 3 meses, que foi dirigido pelo colega Alexey Taranenko.
“Eu pretendia mostrar os rostos das mulheres que tiveram que fugir. Cada uma delas me enviou suas histórias pessoais, todas as quais me levaram às lágrimas e me causaram arrepios. Eu não queria que essas mulheres fossem simplesmente reduzidas a representações abstratas de refugiados sem rosto neste mundo, então no clipe você as verá com seus filhos junto com suas experiências vividas”, conclui Valya.