Traduz-se em um tour de force gravar as sonatas para piano e violino de Wolfgang Amadeus Mozart. Trinta e seis obras que abarcam mais de um quarto de século, da infância aos últimos anos da vida tão breve, de arte tão longa, do grande mestre de Salzburgo.
Vê-se já a abrangência desse microcosmo da produção mozartiana ao observar o Andante da “Sonata para piano e violino em Fá maior, K 376”, a tecer um dueto que bem se poderia escutar na Ópera “Don Giovanni”. Há, entretanto, mais do que isso. Percebe-se, afinal, a relevância desse conjunto em si na história da sonata e em obras muito posteriores, como sinaliza o distinto eco do início da “Sonata para piano e violino em Sol maior, K 379” na introdução do “Concerto Op. 58” de Beethoven (na mesma tonalidade, em outro século).
Claudio Cruz e Olga Kopylova unem experiência e talento consagrados nacional e internacionalmente na realização desse projeto.
No segundo volume da coleção, numa gravação cristalina até nas passagens mais densas, o duo volta-se para as sonatas K 296, K 376, K 377, K 378, K 379 e K 380, compostas entre 1778 e 1781. Cruz e Kopylova garantem o atributo da espontaneidade ao pensamento sempre detalhista, tantas vezes lacônico na escrita, do compositor. Ao longo de toda a interpretação, delineiam minúcias de toque, de tempo, de frase e de equilíbrio entre as partes que se entrelaçam como se não houvesse outra maneira de executar essas sonatas. Com isso, uma chave da expressão mozartiana distingue-se do princípio ao fim neste registro: a naturalidade que só o domínio e o engenho musicais alcançam.
Texto: Daniel Bento – @enxerguemusica