Em Clair de Lune, álbum que dá seguimento a Salut D’Amour, Yuriy Rakevich e Olga Kopylova retornam ao repertório das peças breves, de característico aspecto expressivo. A inspiração, o pendor ou o ritmo próprios erguem e unificam as obras miniaturais. Tantas vezes como encore, suas melodias marcam um concerto na memória.
A agógica do duo — sua “respiração” no tempo musical — propicia o fascínio em Canciones Mexicanas: II. Estrellita, de Manuel Ponce. Favorece-o também o arranjo escolhido para o álbum. Da lavra de Jascha Heifetz, em harmonias inventivas, perfaz jogos de ecos jamais idênticos. Em Danny Boy (Londonderry Air), Rakevich e Kopylova erigem um clímax final sutil, que se baseia menos em volume e mais em vivacidade. A adaptação sofisticada para violino e piano, desta vez, assina-a Fritz Kreisler; e, sobre ela, mostra-se duvidoso asseverar que os blocos de acordes dimanem do impressionismo, e não do jazz, para o qual o virtuose lendário eventualmente já acena nos anos de 1920.
A composição a intitular o álbum é uma das mais caras aos admiradores de Debussy. Conta, neste registro, com uma participação do violino apta a trazer sensação de primeira vez até para quem conheça bem a obra, sobretudo no trecho “tempo rubato”, logo após o início. Orfeo ed Euridice, Wq.30: Melodie tem a veemência enfatizada na forma como o duo constrói e atinge os ápices ao longo das páginas de Gluck. Cumpre dizer o mesmo quando, no momento derradeiro, perdendosi, Rakevich e Kopylova conduzem a música à beleza do silêncio.
Clair de Lune trata, de fato, de melodias que não se esquecem.
Texto: Daniel Bento – @enxerguemusica